Crítica: Ninfomaníaca - Volume 1/2
Eu sou uma má
pessoa.
OBS: Esse post possui
conteúdo Não Recomendado para Menores de 18 anos.
Sério, já estava na
hora do cinema receber um tapa na cara. E é exatamente isso que Lars Von Trier
nos entrega com Ninfomaníaca. Na
verdade, são oito tapas na cara. Oito volumes que serão lançados ao longo do
ano, para tentar acordar todos os hipócratas que tratam certos assuntos como
insultos, ofensas, tabus. Já conhecido pelo seu caráter polêmico, por sua
expressão realista e ao mesmo tempo idealista, Lars Von Trier e uma carrada de
astros de Hollywood fazem essa jornada acontecer. E ps: É só o começo.
Encontrada
machucada em um beco de rua por Seligman (Stellan Skargard), Joe (Charlotte
Gainsbourg) é levada até o apartamento deste gentil homem. Jurando ser uma má
pessoa e admitindo sua personalidade ninfomaníaca, Joe conta toda a sua
história de vida para Seligman, explicando o por que da sua auto avaliação.
V()LUME
I
"O ingrediente
secreto do sexo, é o amor."
Esse primeiro filme
é dividido em 5 capítulos da vida de Joe. Todos eles abordam um assunto
diferente, uma ocasião da vida de Joe que a levou até ali. Nesses capítulos do Volume 1, acompanhamos os primeiros
anos de ninfomania de Joe, até mais ou menos, os 20 anos dela.
Joe começou cedo,
quando pediu para Jérome (Shia LaBeouf), um menino de sua escola, para tirar
sua virgindade. Essa cena, para mim, foi apresentada de um jeito cômico, pois
Joe fala que ficou traumatizada com os números 3 e 5, quantidade de
penetrações, 3 vaginalmente, 5 analmente. Anos mais tarde, com a influência de
sua melhor amiga B (Sophie Kennedy Clarke), Joe começa a se aventurar mais
ainda, expandindo seus horizontes, quando entra em tipo de jogo/competição com
B de quem consegue transar com mais homens em um trem. Joe narra as cenas
sábiamente, sempre envolvendo-as com comparações à literatura, música clássica,
ou até mesmo seres, como por exemplo, os peixes, no qual ela associa aos
homens, sendo ela a pescadora, no caso.
Junto com B, Joe
cria um clube de ninfomaníacas, com regras como não poder dormir com o mesmo
homem, mais de uma vez. Quando até mesmo a ousada amiga quebra essa regra, Joe
fica chateada, pois sabe que aquilo é amor, uma coisa que ela não sente.
Entrando na vida
adulta, Joe resolve procurar um emprego, porém, não tem muito êxito, pois a
única coisa na qual Joe é "formada" é o sexo. Quando finalmente
consegue um emprego, descobre que o chefe é Jérome, o garoto que tirou sua
virgindade. Mesmo relutante, ao final, Joe finalmente entende o que é o amor.
Porém, quando
Jérome começa a agir com indiferença, Joe resolve dormir com outros caras,
resultando numa cena cheia de drama estrelada por Uma Thurman, uma mulher que
descobre que o marido a está traindo com Joe.
Mas, mesmo dando
voltas e nos enrolando, Joe finalmente fica com Jérome. Ela acha que finalmente
vai sentir algo. Aliás, era esse "algo" que ela estava procurando o
tempo todo. Porém, o filme fecha com Joe chorando, dizendo que não sentiu nada,
enquanto faz sexo com Jérome.
Essa cena, é o
ápice do filme. Um final forte, explícito, com nudez frontal e penetração real
de Shia LaBeouf na atriz Stacy Martin, que faz o papel de Joe na vida jovem.
Durante todo o volume I, vemos cenas de sexo explícito como: Sexo oral de Stacy
Martin em um ator; Sexo oral de um ator em Stacy Martin; Masturbação, entre
outros.
V()LUME
II
"Queridos,
acho que não tem sido fácil, mas agora entendo que não somos e nunca seremos
iguais (...) Não sou igual a vocês. Sou ninfomaníaca, e amo ser assim, mas
acima de tudo, eu amo a minha b*ceta e a minha luxúria imunda e obscena."
No Volume II, Joe continua contando sua
jornada sexual para Seligman, agora, com o desfecho esperado de Joe atrás de
conseguir o prazer. Joe explica que perdeu a sensibilidade vaginal quando tinha
12 anos, quando sentiu um orgasmo enquanto via duas mulheres flutuando no céu.
Uma delas, Seligman identifica como "Valeria Messalina, esposa do
Imperador Cláudio, a ninfomaníaca mais conhecida da história." A partir
daí, podemos entender um pouco mais sobre o que é essa odisséia de Joe.
Joe conta que se
casou com Jérome, e logo engravidou. Porém, aos poucos, tanto, nós
espectadores, quanto Jérome, quanto Seligman, e até mesmo ela, percebemos que o
vício de Joe estava destruíndo, quando ela colocava seu prazer acima de tudo,
incluíndo seu filho, ao ponto de sair de casa deixando o filho sozinho. Mas
isso eu comento um pouco mais afrente.
Joe tenta até ter
relações com dois irmãos africanos que vivem perto de seu apartamento, porém os
dois se preocupam mais em discutir de que lado eles irão "comê-la." A
partir daí, somente uma coisa resta para ela, e tinha que ser a solução:
sadomasoquismo.
É quando conhecemos
K (Jamie Bell), um jovem que cobra para bater nas mulheres, para dar prazer
para elas. A violência e a timidez de K chama a atenção de Joe. E aí que ela
deixa o filho sozinho em casa pois a babá não havia aparecido, numa cena que
lembra o filme Anticristo, também
dirigido por Lars Von Trier.
Nesta sessão de Joe
e K, Joe finalmente alcança o orgasmo, numa cena explícita e violenta, que a
deixa toda machucada. Enquanto Joe apanha de K, em uma de suas sessões, vemos o
bebê vagando pela casa sozinho, até encontrar a varanda do prédio, com um
banco. Felizmente, o bebê não morre, pois Jérome chega a tempo. Mas no filme Anticristo, também estrelado por
Charlotte (a atriz que faz Joe), o bebê morre. A cena acontece enquanto a
personagem de Charlotte e de William Dafoe, que no filme são um casal, faz sexo
no banheiro. Sério, pensei que o bebê de Joe morreria, e só assim, Von Trier
irá se assumir como um psicopata de bebês!
Isto resulta no fim
do casamento de Joe e Jérome, que a deixa e leva o bebê junto. A partir daí,
Joe entra para um grupo de "Ninfomaníacas Anônimas", no qual logo
sai, pois não quer largar o vício. Leia a
frase que está acima da crítica deste volume, abaixo do nome V()LUME II.
Depois, Joe conhece
um homem chamado L (William Dafoe), que a ajuda a criar um negócio de cobrança
de dívidas. A partir daí, Joe enfrenta várias situações, situações estas que a
levou a estar no beco machucada, onde Sterling a achou.
()PINIÃ()
Esta é, sem
dúvidas, uma das obras mais inventivas da carreira de Lars Von Trier, assim
como do cinema. O filme aborda de uma forma dramática e em algumas cenas,
"educativas", a busca do sonhado orgasmo de Joe. Por isso que ela se
juga uma péssima pessoa, pois ela sempre colocou seu prazes afrente de todas as
outras coisas, machucando várias pessoas.
Aos poucos, Joe
percebe que esse vício foi uma benção e uma maldição em sua vida. Até por que,
Joe gostava, gostava de ter aquele vício, de transar com todos aqueles homens.
Porém, ela também percebeu que a ninfomania estragou sua vida. E ela deixa bem
claro em alguns momentos do filme que às vezes ela desejava não ter aquilo.
O filme é inovador,
inteligente e provocador. Ele desafia o espectador a observar todas aquelas
cenas explícitas, e a encarar aquilo normalmente. Aliás, o que tem de sobra no
Brasil, assim como no mundo, é gente que vive junto às regras, regras estas que
não acompanham a evolução da humanidade. Diferente deste filme, que quebra as regras
e evolui o cinema para um novo patamar.